segunda-feira, 12 de setembro de 2016
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
A HORA E A VEZ DOS CABELOS BRANCOS por Sara Menck
Já há algum tempo
resolvi aceitar o curso que a vida nos
impõe. Sim, cheguei a uma idade
em que os cabelos tornaram-se grisalhos.
Confesso que fácil não foi admiti-los, apesar disso, o mais complicado é a aceitação
daqueles próximos, ou os observadores de plantão. Normal
cobrarem de nós o que julgam ser o melhor pra nós.
Mas olha só que coisa, conforme o passar do tempo e o trabalho que os fios brancos geram (são deveras rebeldes!!), aprendi amá-los.
Mas olha só que coisa, conforme o passar do tempo e o trabalho que os fios brancos geram (são deveras rebeldes!!), aprendi amá-los.
Tenho uma mania de
procurar o lado bom das coisas, porque tudo tem os dois lados: o bom e o mau.
Vejo como bom esse jeito de me aceitar. Não tenho mais a preocupação quando os fios
começam a aparecer após a pintura! Nem o cheiro da tinta e o interminável tempo de espera para a reação química! Nem a sensação de desleixo quando - ah o mundo inteiro - olha e nota
um cabelo necessitado de pintura! Mas, nem - também - a ventura de vê-los lindos,
depois de tratados por mãos de fada em um salão de cabeleireiro!
Isso me faz lembrar do meu tempo de universitária, quando convivi com
uma colega que agia assim: "que horror esse calor", "detesto esse meu cabelo liso demais,
escorrido...", "cheguei, gente, mas que horror, o ônibus estava tão
cheio que se erguesse um pé, teria de vir com um pé só, aff", "odeio
vir pra faculdade com essa chuva que não pára nunca mais", "esse
professor é um horror, fala muito, não é?" E se me encontrasse hoje
poderia dizer : "Que cabelos sem pintura!! Isso envelhece!!!" e assim por muito mais.
Pra mim, na época,
jovem e observadora estudante, achava
tudo tão bom. Há a chuva que limpa tudo e, depois dela, o mundo fica com uma
cor tão boa de ver. Há o calor e podemos usar sandálias, vestidos leves e
soltos... Há o frio que nos deixa elegantes quando nos cobrimos todo... Há o ônibus
lotado, fica engraçado olhar as pessoas e pensar que podemos fazer uma piadinha
boba e levar os outros ao riso. "Se erguesse um pé, teria que viajar com
um pé só!". Há o conteúdo do professor em
suas falas. Há mulheres que optam por
deixar seguir o curso normal da vida e se veem no refletir do espelho e se
acham belas.
Sim, os cabelos - gradativamente - vão ganhando uma cor diferente. Nos olhos aparecem
uma expressão. Mãos, braços, pernas,
rosto, olhos vão, desde que nascemos, sofrendo transformações. Que fazer com
isso? Ora, cabe a cada um escolher como lidar com a vida. A mim é confortável esse meu jeitão de
querer ser. Parece incrível, mas tenho a impressão de que gosto muito mais de
mim agora.
Lembro-me de
quando tive essa atitude de aceitação. Lecionava na universidade também e havia
o Secretariado Executivo. Meninas lindas!! Pra elas, avisei: "meninas, a
partir de agora não vou pintar mais meus cabelos". Sabe como são as
mulheres. Uma cobra da outra. Sempre queremos bons modelos. Modelos de roupas,
de sapatos, de comportamentos... E nada mais normal do que essa cobrança dos
cabelos não tingidos da professora.
Fazia-se necessário a precaução. Ali eram várias que me olhavam e exigiam de mim um exemplo, um modelo ainda que inconsciente. Mas fui feliz com uma estudante daquelas muito doce "Professora, você é linda de que qualquer jeito". Ufa! Alguém me salvou! Assim, não encorajou as mais exigentes.
Fazia-se necessário a precaução. Ali eram várias que me olhavam e exigiam de mim um exemplo, um modelo ainda que inconsciente. Mas fui feliz com uma estudante daquelas muito doce "Professora, você é linda de que qualquer jeito". Ufa! Alguém me salvou! Assim, não encorajou as mais exigentes.
No colégio, um dia
uma colega me chamou num cantinho "Você é jovem e bonita, não faça isso
com você". Estava tão decidida que nem me desconcertei "acha?!!
Ficarei mais linda, vai ver só!!" (risos).
Foi assim.
Claro, tive crises
de abstinências, olhares repressores, críticas veladas e não veludozas vozes,
mas mantive o projeto de ser nesse tom de transformação da vida...
Sou feliz. Sim, a
gente pode ser muito feliz, cuidando dos cabelos sejam eles tingidos, ou não!
Basta nos amar. Os meus cabelos estão prateados, grisalhos e, um dia, se a vida
der tempo e Deus permitir, torna-se-ão totalmente brancos...
Sara Menck
terça-feira, 19 de julho de 2016
sexta-feira, 15 de julho de 2016
domingo, 26 de junho de 2016
segunda-feira, 20 de junho de 2016
LUGARES COMUNS por Fernando Sabino
"O homem é um animal racional, embora não pareça. Não
há criança que, na escola, não tenha achado graça ao aprender isto,
divertindo-se com os colegas: seu pai é um animal, dizem uns para os outros.
Mas a
criança é o pai do homem, se me permitem este lugar-comum que Wordsworth 1inventou.
Antes de se saber animal e filho de animal, já sabe usar a razão que Deus lhe deu, segundo a qual
as palavras têm um significado concreto e definido, que pode ser colhido nos
dicionários, servindo para designar exatamente aquilo para o qual foram
criadas. Em consequência, os mistérios da linguagem figurada escapam de muito à
tão apregoada imaginação infantil.
Para
as crianças, nada existe senão ao pé da letra
- e não duvido que, diante dessa expressão, pensassem logo numa letra
com pés, dedos, unhas e sapatos. Ir num pé e voltar noutro, por exemplo, para o
menino que eu fui, era uma façanha tão difícil como sair pela rua pulando numa
perna só, depressa para atender a urgência contida na ordem de minha mãe.
Assim
também, meu pai mandar que o empregado desse um pulo na cidade me parecia uma
ordem extravagante, como ordenar que o pobre homem fosse até o centro da
cidade, juntasse as pernas, desse um pulo no ar diante dos transeuntes e
voltasse para casa. Nunca me conformei com a ideia de virar um palite se
comesse pouco ao jantar, de virar uma bola se comesse muito e, em ambas as
hipóteses. Ficar de cara amarrada, porque não queira obedecer. Amarrar a cara
evidentemente só seria possível com o auxílio de cordas, e se nela houvesse um
só pingo de vergonha, ela me escorreria pelo como uma lágrima até pingar no
chão.
[...]
Começava
a penetrar os mistérios da linguagem figurada e ia ingressando, submisso, no
mundo convencional que me deixavam como herança. Ideias que só se impõem pelo
fato de serem repetidas; hábitos que se formam pelo fato de serem impostos;
palavras cuja significação original há muito se perdeu e que são usadas como
rebanhos pacíficos. Gestos de valor convencionado como o das moedas, para o
comércio da convivência.
Um
dia descobriria com espanto uma simples verdade, como o céu é azul, o oceano
imenso, a noite é bela. E o céu passava a ser azul só para mim, o oceano era
imenso porque eu o queria assim, a noite era mais bela que o dia porque era só
minha, de mais ninguém. As ideias herdadas iam sendo reaprendidas, iam sendo
desenterradas do lugar-comum como numa recriação. Era o que eu precisava para
me tornar um escritor.
Escrever bem não é repetir o que já foi bem escrito: é
revalorizar os meios de expressão, juntar ou separar palavras para fazê-las reagir, servir-se do
que já foi dito para dizer pela primeira vez".
SABINO, Fernando. Lugares-comuns. 3ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 33-6
domingo, 19 de junho de 2016
sexta-feira, 17 de junho de 2016
terça-feira, 31 de maio de 2016
quinta-feira, 26 de maio de 2016
sexta-feira, 18 de março de 2016
A ROUPA NOVA DO IMPERADOR por Hans Christian Andersen
”Muitos anos atrás, havia um imperador que gostava de roupas bonitas, mais do que
qualquer outra coisa no mundo.
Na verdade, vestir-se
ocupava todo o seu tempo... De qualquer forma, a vida era alegre na cidade.
Estrangeiros chegavam a toda hora, e um dia, apareceu uma dupla de
espertalhões.
Bem, isso é o que
eles eram, mas se diziam tecelões. Diziam também que o pano que teciam, além de
uma beleza estonteante, tinha propriedades mágicas: tanto no tear como
transformado em roupas, era invisível para quem não estivesse à altura de seu
posto ou para os muito estúpidos.
- Excelente! - pensou
o imperador. Eis a minha chance de descobrir quais dos meus súditos não servem
para os postos que ocupam, e poderei separar os espertos dos tolos. Sim! Esse
pano tem que ser tecido e transformado em roupas imediatamente.
E deu aos impostores uma grande quantia em
dinheiro para que pudessem começar o trabalho.
Na mesma hora os
tratantes montaram o tear e agiram como se estivessem trabalhando com afinco.
Mas, na realidade, não havia nada no tear...(e, assim, continuaram fingindo que
trabalhavam, pedindo mais e mais dinheiro).
Passado um tempo, (o
imperador mandou um súdito - o primeiro-ministro - ver como andavam os
trabalhos. Não foi ele próprio, por receio de não conseguir ver o tecido).
- Deus nos acuda!,
pensou o velho. Não consigo enxergar pano algum - Mas não disse nada... - Será
que sou incapaz para ser ministro? Nunca me considerei incompetente... Não,
não, não posso dizer que não consigo ver o pano.
Pouco tempo depois, o imperador decidiu enviar
um conselheiro honesto para verificar como estava indo o trabalho... Mas
aconteceu com ele a mesma coisa que acontecera com o ministro.
Então, ele admirou o tecido que não podia ver.
- Sim, sim, muito lindo! Cores esplêndidas! Magnífico desenho - e relatou ao imperador
que a estampa do tecido era 'magnífica!'
A notícia do
maravilhoso tecido logo correu pela cidade. Finalmente, o imperador resolveu ir
vê-lo com seus próprios olhos.
- Isso é terrível!,
pensou o imperador. Não consigo enxergar nada nos teares! Serei estúpido?... E
então, ele falou:
- Que tecido
charmoso... lindo! Tem nossa total aprovação - E o imperador deu a cada um dos trapaceiros uma
condecoração honorária e o título de Oficial do Tear da Corte Imperial.
Na véspera da grande
procissão, os farsantes ainda trabalhavam em sua tarefa imaginária: a confecção
da roupa... Finalmente anunciaram:
- A roupa está
pronta!
E o imperador dirigiu-se aos aposentos. Os
trapaceiros continuaram:
- Se sua Alteza
Imperial fizer a gentileza de tirar a roupa que está usando agora, teremos a
honra de vesti-lo com o novo traje; pode ver o efeito neste grande espelho.
O imperador virava-se de um lado e de outro em
frente ao espelho.
- Como está elegante! Como lhe cai bem! -
murmuravam os cortesãos.
- Que tecido rico! As
cores são esplêndidas! Vocês já viram manto mais magnífico? - ninguém ousava
admitir que não via nada...
E assim o imperador
saiu andando majestosamente na procissão, debaixo do esplêndido dossel.
As pessoas nas ruas
ou nas janelas gritavam coisas como:
- Essa roupa nova é
maravilhosa!', 'Como ele está magnífico!', 'Que elegância!'. Pode imaginar?
Ninguém ousava admitir que não conseguia ver roupa alguma. Isso significaria
que essa pessoa era idiota, ou que não servia para seu posto. Na verdade,
nenhum dos deslumbrantes trajes do imperador jamais havia sido tão elogiado.
Então, num momento de
silêncio, ouviu-se uma voz de criança, intrigada.
- Ele não está
vestindo nada! - Sshh! - disse o pai da criança.
- Essas crianças falam cada bobagem!
Mas um sussurro
espalhou-se pela multidão.
- Uma criança ali
disse que o imperador está nu.
- O imperador está
nu!
Logo todos murmuravam:
- Ele está nu!
Finalmente, o próprio imperador achou que eles
poderiam estar certos. Mas aí pensou. 'Se eu parar agora, vou estragar a
procissão e isso não pode acontecer'. Então ele continuou caminhando, mais
altivamente que antes.
Quanto aos cortesãos,
continuaram carregando a cauda do manto que não existia.
Ninguém conseguiu segurar o riso. Todos
gargalharam e só então o rei compreendeu que fora enganado. Envergonhado e
arrependido da sua vaidade, correu a esconder-se no palácio”.
segunda-feira, 14 de março de 2016
ATÉ QUANDO CORRUPTORES E CORROMPIDOS... por Sara Menck
CORRUPÇÃO
Segundo vários dicionários,
corrupção é ato de corromper alguém, ou algo. Tipo de coisa que se faz a fim de
se obter vantagens em relação ao outro.
Tipo de ação considerada ilegal e ilícita.
De acordo com estudiosos, esse
vocábulo " surgiu do latim corruptus,
que significa o "ato de quebrar aos pedaços", ou seja, "decompor e
deteriorar algo". É entendida como ato de subornar, tanto por meio de dinheiro,
ou presentes. É uma atitude fria e
calculista cujo objetivo é a troca de benefícios com interesses próprios.
É um verdadeiro jogo sujo de
interesses, quando ambas as partes compactuam e aceitam sem contratos, palavras ditas, ou escritas. O
corruptor lança mão do que pode oferecer e o corrompido aceita passivamente.
Há vários tipos de
corrupção. Para tanto, basta que haja um interesse apenas. Vivemos um momento
em que isso já está banalizada. Já temos visto textos que justificam a
corrupção política pelas diferentes corrupções entre as pessoas comuns.
Já vimos perguntas do tipo:
"quem é o pior: o que corrompe, ou aquele que defende o
corruptor?". Nem dá pra qualificar,
porque tanto um quanto o outro sabe e age de acordo com os seus interesses e
hipocrisias.
Atualmente, temos visto uma
marca registrada que mostra bem qualidades
de seres com tais atitudes. Mentem. Tem memória curta e acreditam na própria
mentira.
Alguns são bons nos discursos convincentes. Eloquentes. Persuasivos. Convencem não só os outros, como eles próprios. São excelentes manipuladores e capazes de se tornarem vítimas, sem que muitos percebam seus discursos vazios. Zombam daqueles que dominam, apesar disso, os mantêm seguros em seus laços traiçoeiros.
Alguns são bons nos discursos convincentes. Eloquentes. Persuasivos. Convencem não só os outros, como eles próprios. São excelentes manipuladores e capazes de se tornarem vítimas, sem que muitos percebam seus discursos vazios. Zombam daqueles que dominam, apesar disso, os mantêm seguros em seus laços traiçoeiros.
Hoje me pus a pensar a respeito dessa coisa. Lembrei-me de situações em que percebi trocas de favores em interesses próprios e o modo como se deixaram levar. E isso não é algo distante de pessoas consideradas do "bem". Acontece mesmo em muitos e diferentes lugares.
Apesar disso, hoje vejo que é uma ilusão pensar que, um dia,
estaremos livres dessa coisa medonha e intratável. Esse é um mal que acompanha a humanidade,
multiplica-se, desvirtua, devassa, arregaça costumes e hábitos, imoraliza.
Ainda assim há quem faça a sua parte; preste contas a si mesmo e não se deixe decompor, deteriorar-se, corromper-se, ser corrompido, ou corromper o outro.
Ainda assim há quem faça a sua parte; preste contas a si mesmo e não se deixe decompor, deteriorar-se, corromper-se, ser corrompido, ou corromper o outro.
Sara Maria em 14/03/16
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