Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude."
(Vinícius de Moraes)
"Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
Algumas das nossas conquistas, sejam elas amorosas, acadêmicas, profissionais, pessoais enfim, podem levar sete tempos para conseguirmos. Já, outras podem durar ainda mais sete tempos... O importante é sermos perseverantes e aceitarmos o que nos é dado até alcançar o bem desejado.
Camões - o nosso clássico poeta português foi buscar, na Bíblia, inspiração para compor um soneto, cujo tema mostra a perseverança de Jacó pelo amor de Raquel.
"Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
que a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,
começa de servir outros sete anos,
dizendo: mais servira, se não fora
pera tão longo amor tão curta a vida!"
Luis Vaz de Camões
"A fonte antiga deste poema está na Bíblia (Gênesis, XXIX, 25) Na história biblica, Labão engana Jacó, desrespeitando o acordo feito e dando-lhe Lia, a filha mais velha, que, segundo o hábito hebraico, deveria casar-se primeiro. As complicações futuras entre o sogro e o genro, devidas a motivos materiais, não aparecem no poema de Camões, que se interessou apenas pelo lado "romântico" da história"
(RODRIGUES, A.M. Sonetos de Camões: roteiro de leitura. São Paulo: Ática, 1993)
- O que a senhora vai postar no seu blogger no dia dos namorados?
- Não sei... por quê?
- Ah, estou esperando para ler...
- ahnn!! Que bom... Vou pensar nisso...
- Vai pensar?! A senhora ainda não escreveu o seu texto para o dia dos namorados?
- Escrever?! Vejo que você é um aluno exigente, heim?! Você quer que EU escreva um texto para o dia dos namorados?
- Ué, e por que não???
- Não sou poeta, Renan, e ainda estou aprendendo a amar...
- Professora, me desculpe, mas agora a senhora está plagiando uma música daquela cantora que já morreu a... Cássia Eller...
- Não, Renan, nem uma coisa nem outra... A Cássia Eller gravou uma música intitulada “Malandragem”.Uma composição de Cazuza e Frejat... Há um trecho dessa música assim:
"Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança
E não conheço a verdade
Eu sou poeta
E não aprendi a amar
Eu sou poeta
E não aprendi a amar..."
E na realidade, essa música faz uma referência a um texto de um poeta ultrarromântico chamado Alvarez de Azevedo que escreveu um poema intitulado “ Lembrança de morrer” . Nesse poema, encontramos uma estrofe assim:
"Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela
— Foi poeta — sonhou — e amou na vida.—"
- Ah, professora, entendi...então, foi o Cazuza que plagiou esse tal de Alvarez de Azevedo??
- Não!!!!! Ninguém plagiou ninguém... pelo menos, nãonesse caso!!! Isso se chama INTERTEXTUALIDADE. Isto é, quando em um texto fazemos citação de outro texto.Na verdade, é um diálogo entre textos... A citação pode ser na íntegra, quando copiamos parte de um texto, mas dizemos quem é o autor; ou quando fazemos, no nosso texto, uma referência proposital de outro texto, ou autor... Isso enriquece o texto... mostra conhecimento textual e leituras... São verdadeiros diálogos textuais...
- Diálogos???Um texto “conversa” com outro texto?
- É isso!! A gente percebe o texto citado, mas com novo sentido... Como nos exemplos acima... Por isso, é importante sermos leitores para percebermos os explícitos e os implícitos textuais...
- Ah, tá bom... mas, e plágio?
- Bom, plágio é quando se copia algo de alguém e não faz as devidas citações da fonte e autoria e aindausa como se fosse seu...
- Deixa ver se eu entendi... é “roubar” a ideia de alguém!!!
- Obrigado, profe!!!Aqui a gente sempre “ensina” um pouco...
- ????
- .!!!!!
- É isso... Por isso, é importante lermos... Precisamos compreender melhor os diálogos... e até mesmo os diálogos entre os textos... E o próprio diálogo textual interno como neste texto... Certo, my boy?
- Hum hum!!
- Quanto ao dia dos namorados, pretendo sim trazer alguns textos... É só você me seguir...
- ... e o seu texto??
- ... o meu texto já está aqui...
-mas... para o dia dos namorados...
- Quem sabe... sempre vale a pena falar de amor!!! Agora vamos lerLuis de Camôes eRenato Russo . Aqui temos diálogos entre os textos de Camões (poeta Clássico) e Russo (contemporâneo), mas é importante lembrar que em Renato Russo encontramos um intertexto bíblico também.
Então, Renan, antes das leituras citadas acima, leia e pense nisto:
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse toda a ciência, e ainda que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria [...]." (I Cor.: 13)