Já há algum tempo
resolvi aceitar o curso que a vida nos
impõe. Sim, cheguei a uma idade
em que os cabelos tornaram-se grisalhos.
Confesso que fácil não foi admiti-los, apesar disso, o mais complicado é a aceitação
daqueles próximos, ou os observadores de plantão. Normal
cobrarem de nós o que julgam ser o melhor pra nós.
Mas olha só que coisa, conforme o passar do tempo e o trabalho que os fios brancos geram (são deveras rebeldes!!), aprendi amá-los.
Mas olha só que coisa, conforme o passar do tempo e o trabalho que os fios brancos geram (são deveras rebeldes!!), aprendi amá-los.
Tenho uma mania de
procurar o lado bom das coisas, porque tudo tem os dois lados: o bom e o mau.
Vejo como bom esse jeito de me aceitar. Não tenho mais a preocupação quando os fios
começam a aparecer após a pintura! Nem o cheiro da tinta e o interminável tempo de espera para a reação química! Nem a sensação de desleixo quando - ah o mundo inteiro - olha e nota
um cabelo necessitado de pintura! Mas, nem - também - a ventura de vê-los lindos,
depois de tratados por mãos de fada em um salão de cabeleireiro!
Isso me faz lembrar do meu tempo de universitária, quando convivi com
uma colega que agia assim: "que horror esse calor", "detesto esse meu cabelo liso demais,
escorrido...", "cheguei, gente, mas que horror, o ônibus estava tão
cheio que se erguesse um pé, teria de vir com um pé só, aff", "odeio
vir pra faculdade com essa chuva que não pára nunca mais", "esse
professor é um horror, fala muito, não é?" E se me encontrasse hoje
poderia dizer : "Que cabelos sem pintura!! Isso envelhece!!!" e assim por muito mais.
Pra mim, na época,
jovem e observadora estudante, achava
tudo tão bom. Há a chuva que limpa tudo e, depois dela, o mundo fica com uma
cor tão boa de ver. Há o calor e podemos usar sandálias, vestidos leves e
soltos... Há o frio que nos deixa elegantes quando nos cobrimos todo... Há o ônibus
lotado, fica engraçado olhar as pessoas e pensar que podemos fazer uma piadinha
boba e levar os outros ao riso. "Se erguesse um pé, teria que viajar com
um pé só!". Há o conteúdo do professor em
suas falas. Há mulheres que optam por
deixar seguir o curso normal da vida e se veem no refletir do espelho e se
acham belas.
Sim, os cabelos - gradativamente - vão ganhando uma cor diferente. Nos olhos aparecem
uma expressão. Mãos, braços, pernas,
rosto, olhos vão, desde que nascemos, sofrendo transformações. Que fazer com
isso? Ora, cabe a cada um escolher como lidar com a vida. A mim é confortável esse meu jeitão de
querer ser. Parece incrível, mas tenho a impressão de que gosto muito mais de
mim agora.
Lembro-me de
quando tive essa atitude de aceitação. Lecionava na universidade também e havia
o Secretariado Executivo. Meninas lindas!! Pra elas, avisei: "meninas, a
partir de agora não vou pintar mais meus cabelos". Sabe como são as
mulheres. Uma cobra da outra. Sempre queremos bons modelos. Modelos de roupas,
de sapatos, de comportamentos... E nada mais normal do que essa cobrança dos
cabelos não tingidos da professora.
Fazia-se necessário a precaução. Ali eram várias que me olhavam e exigiam de mim um exemplo, um modelo ainda que inconsciente. Mas fui feliz com uma estudante daquelas muito doce "Professora, você é linda de que qualquer jeito". Ufa! Alguém me salvou! Assim, não encorajou as mais exigentes.
Fazia-se necessário a precaução. Ali eram várias que me olhavam e exigiam de mim um exemplo, um modelo ainda que inconsciente. Mas fui feliz com uma estudante daquelas muito doce "Professora, você é linda de que qualquer jeito". Ufa! Alguém me salvou! Assim, não encorajou as mais exigentes.
No colégio, um dia
uma colega me chamou num cantinho "Você é jovem e bonita, não faça isso
com você". Estava tão decidida que nem me desconcertei "acha?!!
Ficarei mais linda, vai ver só!!" (risos).
Foi assim.
Claro, tive crises
de abstinências, olhares repressores, críticas veladas e não veludozas vozes,
mas mantive o projeto de ser nesse tom de transformação da vida...
Sou feliz. Sim, a
gente pode ser muito feliz, cuidando dos cabelos sejam eles tingidos, ou não!
Basta nos amar. Os meus cabelos estão prateados, grisalhos e, um dia, se a vida
der tempo e Deus permitir, torna-se-ão totalmente brancos...
Sara Menck
Que lindo ... Espero cautelosamente pelos meus. Rezo para que chegam em paz com força e delicadeza. Tê-los para mim será uma alegria, vida longa :)
ResponderExcluirQue lindo você pensar assim!! Você é mesmo a minha menina!! Beijos, Sandrinha!!!
ExcluirPerfeito o texto Sara!
ResponderExcluirObrigada, Cacia Regina!! Bjs!!!
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