Há
alguns anos, por ocasião do meu aniversário, ganhei um presente de duas alunas:
uma caixinha média
e um pequeno colar dentro. Elas se desculparam pelo tamanho da caixa, mas amei
tudo, caixinha e colar.
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Foto: SMMS |
E elas esperaram eu usar. Poucos dias depois, cobraram
de mim. Na verdade, não me lembro da resposta e nem do porquê não ter exibido
o colar no dia seguinte. Hoje vejo que
foi uma indelicadeza distraída, porque amara aquele mimo.
Eram
adolescentes e a jovem professora com vontade de acertar nas ações pedagógicas,
mas, por certo, errava bastante. Um dos erros era não perceber que revelava
certas preferências a alguns alunos, apesar de que isso era algo que eles
próprios provocavam. Alguns demonstravam carinho e eu me sentia amada. Claro,
que era bom; mas outros não faziam o mesmo. E na turma havia certa disputa e geravam,
inclusive, ciúmes. E segui preocupada com o conteúdo, lógico que amava aquela
turma, mas “segurava” esse sentimento. E seguia o planejamento didático da
melhor forma possível. A turma era excelente e se tivesse sabido trabalhar
melhor aquela consciência íntima e conteúdos didáticos, teria sido sucesso
total.
Mas
a vida não é assim. As coisas não acontecem cem por cento. Se assim fosse, já
estaríamos no paraíso. Temos verdadeiras caixinhas de joias em nossas mãos e
não sabemos perceber beleza e brilho que podem nos encher de felicidade.
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Foto: SMMS |
Hoje,
quase 20 anos depois, ainda guardo os dois presentes. Dentro da caixinha, agora
cabe um pequeno espelho, além de muitas lembranças, saudades, angústias, medos,
amizades, esperanças...
Interessante
é olhar para o espelho e ver e analisar ações, palavras e pensamentos que estão
contidos na história de vida. Vejo que durante os anos de magistério, aprendi
mais do que ensinei. Ao longo da vida, tantas vezes quis acertar e foram tantos
os erros. Há, na minha caixinha,
lembranças boas e queridas e reflexões acerca de tantos sentimentos e de uma
história que, se pudesse, usaria – também - uma borracha.
Mas
há, acima de tudo, esse aprendizado lento e longo. Na caixinha coube tanta sensibilidade que nem é possível descrever aqui. O espelho faz refletir e leva à
reflexão.
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Foto: SMMS |
E a
caixinha se encheu de segredos e mistérios da vida. Quantas vezes, eu quis
melhorar tantas coisas! Dar o 10,0 – tão merecido - para tantos estudantes que
pelas minhas mãos passaram. Abraçar tantos que o meu coração se encantou. Não demonstrar maior afeição por uns e deixar
outros com os olhos e o coração pedindo um pouco do carinho. Olhar para todos e
ver apenas a imensidão de coisas boas que há em cada coração. Esquecer sempre a
ofensa, o mau e o mal-entendido. Deixar o eu exercitar o nós. O outro merece
sempre mais que o eu. Amar cada um, respeitando as diferenças. Tolerar as
imprudências. Jamais ser hipócrita. Nunca lançar a palavra de forma indireta
para constranger o outro. Ser sincero
sempre e tirar do invólucro o silêncio como a melhor forma de diálogo...
Ah,espelho,
espelho meu, agora reflete como Kolody: “Quem é essa / que me olha / de tão longe, /com olhos
que foram meus?”, ou, então finaliza o
canto de Meireles, “Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão
certa, tão fácil: / Em que espelho ficou perdida a minha face?"
Ah, caixa, caixinha, quanto cabe
dentro de ti e, quantas vezes, fala como Pessoa: “"Temos,
todos que vivemos / uma vida que é vivida, / E outra que é pensada / E a única
vida que temos / É essa que é dividida/ Entre a verdadeira e a errada" .
Já, outras vezes, é bem Rosa: "O correr da vida embrulha tudo./ A vida é
assim: esquenta e esfria, / aperta e daí afrouxa, / sossega e depois
desinquieta./ O que ela quer da gente é coragem."...
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Foto: SMMS |
Sara
Maria