”Muitos anos atrás, havia um imperador que gostava de roupas bonitas, mais do que
qualquer outra coisa no mundo.
Na verdade, vestir-se
ocupava todo o seu tempo... De qualquer forma, a vida era alegre na cidade.
Estrangeiros chegavam a toda hora, e um dia, apareceu uma dupla de
espertalhões.
Bem, isso é o que
eles eram, mas se diziam tecelões. Diziam também que o pano que teciam, além de
uma beleza estonteante, tinha propriedades mágicas: tanto no tear como
transformado em roupas, era invisível para quem não estivesse à altura de seu
posto ou para os muito estúpidos.
- Excelente! - pensou
o imperador. Eis a minha chance de descobrir quais dos meus súditos não servem
para os postos que ocupam, e poderei separar os espertos dos tolos. Sim! Esse
pano tem que ser tecido e transformado em roupas imediatamente.
E deu aos impostores uma grande quantia em
dinheiro para que pudessem começar o trabalho.
Na mesma hora os
tratantes montaram o tear e agiram como se estivessem trabalhando com afinco.
Mas, na realidade, não havia nada no tear...(e, assim, continuaram fingindo que
trabalhavam, pedindo mais e mais dinheiro).
Passado um tempo, (o
imperador mandou um súdito - o primeiro-ministro - ver como andavam os
trabalhos. Não foi ele próprio, por receio de não conseguir ver o tecido).
- Deus nos acuda!,
pensou o velho. Não consigo enxergar pano algum - Mas não disse nada... - Será
que sou incapaz para ser ministro? Nunca me considerei incompetente... Não,
não, não posso dizer que não consigo ver o pano.
Pouco tempo depois, o imperador decidiu enviar
um conselheiro honesto para verificar como estava indo o trabalho... Mas
aconteceu com ele a mesma coisa que acontecera com o ministro.
Então, ele admirou o tecido que não podia ver.
- Sim, sim, muito lindo! Cores esplêndidas! Magnífico desenho - e relatou ao imperador
que a estampa do tecido era 'magnífica!'
A notícia do
maravilhoso tecido logo correu pela cidade. Finalmente, o imperador resolveu ir
vê-lo com seus próprios olhos.
- Isso é terrível!,
pensou o imperador. Não consigo enxergar nada nos teares! Serei estúpido?... E
então, ele falou:
- Que tecido
charmoso... lindo! Tem nossa total aprovação - E o imperador deu a cada um dos trapaceiros uma
condecoração honorária e o título de Oficial do Tear da Corte Imperial.
Na véspera da grande
procissão, os farsantes ainda trabalhavam em sua tarefa imaginária: a confecção
da roupa... Finalmente anunciaram:
- A roupa está
pronta!
E o imperador dirigiu-se aos aposentos. Os
trapaceiros continuaram:
- Se sua Alteza
Imperial fizer a gentileza de tirar a roupa que está usando agora, teremos a
honra de vesti-lo com o novo traje; pode ver o efeito neste grande espelho.
O imperador virava-se de um lado e de outro em
frente ao espelho.
- Como está elegante! Como lhe cai bem! -
murmuravam os cortesãos.
- Que tecido rico! As
cores são esplêndidas! Vocês já viram manto mais magnífico? - ninguém ousava
admitir que não via nada...
E assim o imperador
saiu andando majestosamente na procissão, debaixo do esplêndido dossel.
As pessoas nas ruas
ou nas janelas gritavam coisas como:
- Essa roupa nova é
maravilhosa!', 'Como ele está magnífico!', 'Que elegância!'. Pode imaginar?
Ninguém ousava admitir que não conseguia ver roupa alguma. Isso significaria
que essa pessoa era idiota, ou que não servia para seu posto. Na verdade,
nenhum dos deslumbrantes trajes do imperador jamais havia sido tão elogiado.
Então, num momento de
silêncio, ouviu-se uma voz de criança, intrigada.
- Ele não está
vestindo nada! - Sshh! - disse o pai da criança.
- Essas crianças falam cada bobagem!
Mas um sussurro
espalhou-se pela multidão.
- Uma criança ali
disse que o imperador está nu.
- O imperador está
nu!
Logo todos murmuravam:
- Ele está nu!
Finalmente, o próprio imperador achou que eles
poderiam estar certos. Mas aí pensou. 'Se eu parar agora, vou estragar a
procissão e isso não pode acontecer'. Então ele continuou caminhando, mais
altivamente que antes.
Quanto aos cortesãos,
continuaram carregando a cauda do manto que não existia.
Ninguém conseguiu segurar o riso. Todos
gargalharam e só então o rei compreendeu que fora enganado. Envergonhado e
arrependido da sua vaidade, correu a esconder-se no palácio”.
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