Gosto de analisar e estudar a respeito das palavras. Entendo que quanto ao fato de serem bonitas, feias, neutras, isso depende da percepção de cada um. Mas o fato é que algumas palavras nos soam mais adequadas e acertadas tanto na interação como falante/ouvinte quanto como escritor/leitor.
Vejo que eu tenho um gosto especial por algumas palavras. Amo, por exemplo, a palavra “querida”. Tanto gosto de ouvi-la quando de proferi-la. Agora, se eu for ao dicionário, posso encontrar uma definição dela como: uma palavra feminina; particípio passado do verbo querer; feminino singular de querido. E querido é um adjetivo que pode significar caro, prezado, favorito.
Assim, querida, ou querido é alguém que nos é muito caro, ou bastante amado. Enfim, é alguém que nos faz bem. É aquele que nos acalma. Aconchega. Aceita. De certo modo, é alguém que se mostra a outrem de um jeito especial para ser honrado com um tratamento nobre.
Quando chamamos alguém de querida, ou querido, é porque esse alguém se tornou, para nós, digno desse tratamento. Faz soar bem para quem diz, e é doce e bom e suave para quem recebe.
Bom, o que eu quero realmente dizer, além de registrar aqui o meu gosto pela palavra “querida”, é que é, sim, interessante conhecer os significados das palavras e é, muitas vezes, necessário consultar o dicionário para compreender melhor o texto. Apesar disso, o melhor mesmo é perceber o significado da palavra dentro do texto, no contexto do dizer mais profundo de quem diz.
Olha só a palavra querida, no texto de Machado de Assis intitulado “À Carolina”.
Mas antes, vamos ver o contexto:
Vamos lembrar que Joaquim Maria Machado de Assis foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis. Era pobre e descendente de negro e tornou-se o maior escritor do país. Um grande mestre da língua portuguesa.
Teve uma saúde frágil, era epilético, gago, e pouco se sabe a respeito de sua infância e início da juventude. Foi criado no morro do Livramento e não teve acesso à cursos regulares, mas empenhou-se em aprender. Foi autodidata e deixou significativa e vasta obra literária. Foi casado com D. Carolina Xavier. Um casamento feliz que durou 35 anos.
De acordo com alguns crítícos, Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico”. " A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica". E em suas obras, encontramos, muitas vezes, ironias.
Mas, no poema “À Carolina”, pode-se perceber uma grande verdade do escritor: o amor e a saudade da velha e querida companheira.
Vejo que, nesse texto, a palavra querida é usada com um significado deveras carinhoso pelo escritor que realmente amara Dona Carolina Xavier.
"À CAROLINA
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos."
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos."
Obrigada.
ResponderExcluirAbração, Neusa!!<3
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