XLV
"Não estejas longe de mim um só dia, porque como,
porque, não sei dizê-lo, é comprido o dia,
e te estarei esperando como nas estações
quando em alguma parte dormitaram os trens.
Não te vás por uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas do desvelo
e talvez toda a fumaça que anda buscando casa
venha matar ainda meu coração perdido.
Ai que não se quebrante tua silhueta na areia,
ai que não voem tuas pálpebras na ausência:
não te vás por um minuto, bem-amada,
porque nesse minuto terás ido tão longe
que eu cruzarei ainda toda a terra perguntando
se voltarás ou se me deixarás morrendo."
Pablo Neruda
NERUDA, Pablo. XLV. In: Cem sonetos de amor. Tradução de Carlos Nejar. 5ª ed. Porto Alegre: L & PM Editores. 1979. p. 57.
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