"ESTE OU ESSE"??
Eis um texto didático, gostoso de ler e que esclarece bem as possíveis dúvidas a respeito do uso desses pronomes na hora de escrever...
Vamos ao texto???
"Em
tese,
o português, diferentemente de outras línguas, tem três e não apenas dois
pronomes demonstrativos: este, esse, aquele
(e suas variantes, incluindo isto, isso, aquilo).
Em
geral,
as gramáticas tentam formular uma distinção entre eles, estabelecendo uma
correlação com as três pessoas do discurso: usaríamos este quando o ente
está próximo do falante (primeira pessoa), esse quando o ente está
próximo do ouvinte (segunda pessoa) e aquele quando distante de ambos
(terceira pessoa).
Na
fala,
contudo, essa distinção imaginada pelos gramáticos simplesmente não
funciona. Na prática, operamos mesmo com um sistema de dois
demonstrativos (de um lado este ou esse indiferentemente e, de
outro, aquele).
Quando
é necessário destacar a proximidade, usamos os advérbios aqui,
ali, lá para dividir o espaço em faixas de proximidade (do mais próximo ao
mais distante) e os combinamos com os dois grupos de demonstrativos.
Produzimos, então, as mais diferentes expressões: este/ esse aqui, este/
esse aí, este /esse ali, aquele ali, aquele lá.
Na
escrita, se observarmos com atenção, vamos ver que mesmo os
grandes escritores usam este/esse indiferentemente, o que é mais um
sinal inequívoco de que o sentimento linguístico dos falantes de português não
faz efetiva distinção entre estes (ou esses?) dois pronomes.
Na
escrita, há um certo esforço histórico de certos gramáticos no
sentido de tentar tirar ainda um pouco de leite da distinção artificial que
eles mesmos criaram. E há gente que leva essa regrinha muito a sério (e gosta
de cobrá-las em exames de escolaridade, embora não as use tão regularmente
quanto sugere... Essas – ou estas? - estranhas coisas da vida!). Para você se
defender, façamos aqui o registro das ditas regrinhas.
Dizem
os gramáticos que (regra 1) quando o demonstrativo está
apontando para um elemento já mencionado
no texto, usa-se esse; quando aponta para um elemento que vai ser
mencionado usa-se este. Assim, vejamos estes (ou esses?) exemplos:
“Somos
seres de linguagem, constituídos e vivendo um complexo feixe de relações
socioverbais. Esse conceito nos leva a entender que ensinar português é,
fundamentalmente, oferecer aos educandos oportunidades de amadurecer e
ampliar o domínio que eles já têm das práticas de linguagem. O fato é este:
em língua materna, obviamente, nunca parte do zero.”
Até
aí a coisa vai. Mas: e quando há dois antecedentes no texto?
Bem, os
gramáticos inventaram, então, que (regra 2) devemos usar este para
o mais próximo e aquele para o mais distante. Veja este exemplo:
“Ele comparou, em seu artigo, a imagem pública de Fernando Collor com a de
Fernando Henrique: este como exemplo de austeridade e aquele como
modelo de corrupção”.
Note
que,
nesse caso, o emprego de este contraria a primeira regra. De
qualquer forma, como é inútil perder o sono por isso, é interessante
gravar essas duas regrinhas, tendo, porém, clareza da grande
flutuação de este/esse mesmo nos textos escritos mais cuidados."
In:
(FARACO, Carlos Alberto. Português: língua e
cultura. Curitiba/PR: Base Editora, 2005, p. 55)
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