quarta-feira, 27 de abril de 2011

"POR UMA LINGUAGEM DE PRÍNCIPES E PRINCESAS!" por Sara Menck

“You may say I'm a dreamer” 

Muitas e muitas vezes na nossa vida, ouvimos palavras indesejáveis e, quantas  vezes, somos feridos e maltratados por elas.  Por outro lado, quantas vezes a Palavra acalma o coração, acalenta a alma e fortalece o espírito.

Mas a palavra é a expressão do pensamento e é por meio dela que mostramos quem somos.
Quando falamos, aquele que nos ouve, observa, analisa, julga...  Podemos correr o risco de ser interpretado como agressivos quando proferimos, por exemplo,  palavrões. Isso revela pobreza interior, ausência de nobreza.

 

Quando uma pessoa expressa palavras pesadas, termos pejorativos, xingamentos, ela se mostra agressiva, deixa uma impressão deselegante e, até mesmo, pode tornar-se não confiável.
Vejo que cuidar da linguagem se faz tão necessário quanto a preocupação do alimento diário, ou da aparência física.

 

O universo interior necessita do melhor alimento e ele é exercitado por meio das palavras, tanto as que recebemos quanto aquelas que oferecemos.


Mas um vocabulário complexo não se faz necessário em nosso discurso. Ao exteriorizarmos  pensamentos, tornam-se elegantes quando neles há veracidade e simplicidade. Igualmente é "deselegante" e faz mal para a construção do ser, a palavra bajuladora, mentirosa, hipócrita...




E a nossa palavra exerce uma ação sobre o outro.  Por meio dela, ensinamos, aprendemos, condenamos, criticamos, julgamos, compreendemos,  caluniamos, elogiamos, construimos, destruimos...
E a palavra é a expressão do pensamento, ainda que sejamos infelizes no dizer. E o pensamento elegante não é apenas aquele que discorre pelos âmbitos culturais e artísticos.
O pensamento elegante mostra a palavra bem elaborada em todos os contextos; revela organização de pensamento e transmite firmeza, segurança.


A palavra boa é atraente. É elegante. E isso tem muito a ver com a riqueza interior. Mas em que consiste essa força interior capaz de elevar o espírito humano?
 Consiste, também, na escolha do melhor e mais adequado discurso.

A verdade é que o homem possui o livre arbítrio. E ele vai moldar o seu espírito de acordo com as suas escolhas. E serão as palavras que irão formar, transformar, reformar, deformar o seu ser.


 Mas é preciso aprender para saber julgar e escolher bem. Ter o desejo e conhecer a necessidade de ser melhor para si mesmo. É preciso querer ser elegante no uso da língua e o elegante oferece o melhor de si. Vejo que adquirir um estilo elegante na fala supõe ser fiel a atitudes tomadas com o firme convencimento de que marquem para sempre a existência. 


Por isso, escolher a melhor palavra; aquela que encanta, que acolhe, que se faz aceita; mostrar um vocabulário simples em gestos elegantes faz parte da “roupa” que se veste no “eu” que se mostra ao outro.
Agora, é um sonho impossível desejar um mundo onde não houvesse tanta agressão vocabular?
Um poeta já imaginou um mundo melhor. Um lugar onde não houvesse violência, fome, gula, separações, divisões. E você pode me dizer que imaginar é fácil, entretanto, o difícil é realizar.

E bem verdade é isso!

Como realizar um mundo melhor com pessoas mais elegantes? A violência esta ai e deixa marcas profundas do seu terror no tempo em que vivemos.
E educar e tornar crianças como verdadeiros príncipes e princesas também é um sonho.

 Isso mudaria o mundo?

Não. O mundo está totalmente tragado pela sua violência.

 Mas não é impossível melhorar a criança que há dentro de nós, pois há muitas e belas palavras ainda a serem proferidas...  
Não somos seres únicos e nem centro e fonte do nosso discurso. Assim, a nossa  palavra pode ser lapidada para que possamos agir sobre o outro com elegância e ética e marcar essa breve existência. Somos passageiros... Um dia, partiremos...
... O poeta, do qual falamos, já passou por aqui...

Há um poeminha - desconheço a autoria - que ilustra bem isso. Ele diz assim:

                                              “Um dia, eu partirei
E onde meus pés estiveram,
Haverá um rastro;
Onde minhas mãos estiveram,
Haverá uma impressão;
E onde meu corpo esteve,
Haverá calor.
E de mim te lembrarás”.

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Se me permite,  arrisco questionar:

E como ficou o lugar em que a sua palavra esteve?

Se por um lado, tudo no mundo se acaba, tem o seu fim; por outro, o que é bom, bonito, elegante, deixa marcas profundas - também.

Sara Maria  - abril/2011
E agora, um pouco de John Lennon, só para não dizer que não falei de "Imagine"
 
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Imagine
Composição : John Lennon

Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace
You may say
I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day
You'll join us
And the world will be as one

Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world

You may say,
I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day
You'll join us
And the world will be as one.


Sugestões de Leitura:

SAPOS EM PRÍNCIPES  - programação neurolinguistica  - Autores: Richard Bandler e John Grinder  com tradução de Maria Silvia Moura Neto. Uma leitura para acadêmicos, ou mesmo estudantes do ensino médio.

O PEQUENO PRÍNCIPE - Autor: Antoine de Saint-Exupery - Uma leitura deliciosa em qualquer idade.
PRÍNCIPES E PRINCESAS - SAPOS E LAGARTOS - Autor: Flávio de Souza - Histórias modernas de tempos antigos, abordadas de forma divertida. - indicado para jovens - adolescentes.

O FANTÁSTICO MISTÉRIO DE FEIURINHA  - Pedro Bandeira - Uma intertextualidade com as princesas e príncipes dos contos de fadas. Uma leitura para jovens/adolescentes.

MAIS PURO QUE O DIAMENTE - J. C. De Ferrieres. Uma excelente leitura para  namorados, noivos, recém-casados.


Só mais uma "dica" - Toda criança tem o direito de conhecer as histórias infantis - sobretudo - os contos de fadas.




sábado, 23 de abril de 2011

"O CONSTANTE DIÁLOGO" por Carlos Drummond de Andrade


Para comemorar o dia mundial do livro, vamos ler um texto de Carlos Drummond de Andrade  e outro de Elias José.

Vamos a eles.




O CONSTANTE DIÁLOGO




Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amante
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado


Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro


Escolhe teu diálogo
e
Tua melhor palavra
ou
Teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.





(ANDRADE, Carlos Drummon de. Discurso de primavera e algumas sombras. São Paulo: Circulo do livro, 1994. p.110.)

ou



Um livro


Um livro
É uma beleza,
É uma caixa mágica
Só de surpresas!






Um Livro
parece mudo...
Mas nele a gente  
descobre tudo!     


Um livro tem asas,
longas e leves...
que de repente,
levam a gente,
longe, longe...



Um livro
é parque de diversões:
cheios de sonhos coloridos,
cheio de doces sortidos,
cheio de luzes e balões...
*

Um livro...
É uma floresta



com folhas e flores
e bichos e cores,
é mesmo uma festa!
Um navio pirata no mar,
um foguete perdido no ar,
é amigo é companheiro!
(Elias José)






Biblioteca Monteiro Lobato  

Biblioteca Olavo Bilac 


Meu caro leitor,

Vale a pena repetir a última estrofe de Drummond.

"Escolhe teu diálogo
e
Tua melhor palavra
ou
Teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos".

sexta-feira, 22 de abril de 2011

"MARCELO, MARMELO, MARTELO" por Ruth Rocha





As crianças, muitas vezes, nos falam coisas interessantes.

 Mas é muito engraçado quando elas criam certas palavras.

 Uma vez, a minha cunhada me contou que a filha, um dia, disse assim - quando começou a anoitecer.
- Mãe, já começou a escuriar...
Claro que, naquele momento, a minha sobrinha expressou o que ela entendia pelo contrário de clarear...
É incrível as  comparações que as crianças fazem ao “criar” novas palavras e organizar os seus pensamentos.

Veja só a história do martelo,

quero dizer, do marmelo,

não, do Marcelo...


Contada por Ruth Rocha e ilustrada por Adalberto Cornavaca.

MARCELO, MARMELO, MARTELO.

Marcelo vivia fazendo perguntas a todo mundo:
- Papai, por que é que a chuva?
-Mamãe, por que é que o mar não derrama?
- Vovó, por que é que o cachorro tem quatro pernas?
As pessoas grandes às vezes respondiam. Às vezes, não sabiam como responder.
-Ah, Marcelo, sei lá...
Uma vez, Marcelo cismou com o nome das coisas:
- Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo?
- Ora, Marcelo foi o nome que eu e seu pai escolhemos.
- E por que é que não escolheram martelo?
-Ah, meu filho, martelo não é nome de gente! É nome de ferramenta...
- Por que é que não escolheram marmelo?



- Porque marmelo é nome de fruta, menino!
- E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?
No dia seguinte, lá vinha ele outra vez:
- Papai, por que é que mesa chama mesa?
- Ah, Marcelo, vem do latim.
- Puxa, papai, do latim? E latim é língua de cachorro?
- Não, Marcelo, latim é uma língua muito antiga.
- E por que é que esse tal de latim não botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de bacalhau?
-Ai, meu Deus, este menino me deixa louco!
Daí a alguns dias, Marcelo estava jogando futebol com o pai:
-Sabe, papai, eu acho que o tal de latim botou nome errado nas coisas. Por exemplo, por que é que bola chama bola?
- Não sei, Marcelo, acho que bola lembra uma coisa redonda, não lembra?
-Lembra, sim, mas ... e bolo?


- Bolo também é redondo, não é?
- Ah, essa não! Mamãe vive fazendo bolo quadrado...
O pai de Marcelo ficou atrapalhado.

E Marcelo continuou pensando:
“Pois é, esta tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E Bala? Eu acho que as coisas deviam ter o nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou falar assim”.


Logo de manhã, Marcelo começou a falar sua nova língua:
- Mamãe, quer me passar o mexedor?
- Mexedor? Que é isso?
- Mexedorzinho, de mexer café.
- Ah, colherinha, você quer dizer.
- Papai, me dá o suco de vaca?
- Que é isso menino?
- Suco de vaca, ora! Que está no suco-da-vaqueira.
- Isso é leite, Marcelo. Quem é que entende este menino?

O pai de Marcelo resolveu conversar com ele:
- Marcelo, todas as coisas têm um nome. E todo mundo tem que chamar pelo mesmo nome porque, senão, ninguém se entende...
- Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas?


- Deixe de bobagens, menino! Que coisa mais feia!
- Esta vendo como você entendeu, papai? Como é que você sabe que eu disse um nome feio?
O pai de Marcelo suspirou:
- Vá brincar, filho, tenho muito que fazer...
Mas Marcelo continuava não entendendo a história dos nomes. E resolveu continuar a falar, à sua moda. Chegava em casa e dizia:
- Bom solário pra todos...
O pai e a mãe de Marcelo se olhavam e não diziam nada. E Marcelo continuava inventando:
Sabem o que eu vi na rua? Um puxadeiro puxando uma carregadeira. Depois, o puxadeiro fugiu e o possuidor ficou danado.

A mãe de Marcelo já estava ficando preocupada. Conversou com o pai:
- Sabe, João, eu estou muito preocupada com o Marcelo, com essa mania de inventar nomes para as coisas... Já pensou, quando começarem as aulas? Esse menino vai dar trabalho...
- Que nada, Laura! Isso é uma fase que passa. Coisa de criança...


Mas estava custando a passar...
Quando vinham visitas, era um caso sério. Marcelo só cumprimentava dizendo:
- Bom solário, bom lunário... – que era como ele chamava o dia e a noite.
E os pais de Marcelo morriam de vergonha das visitas.



Até que um dia...
O cachorro do Marcelo, o Godofredo, tinha uma linda casinha de madeira que
Seu João tinha feito para ele. E Marcelo só chamava a casinha de moradeira, e o cachorro de Latildo.
E aconteceu que a casa do Godofredo pegou fogo. Alguém jogou uma ponta de cigarro pela grade, e foi aquele desastre!



Marcelo entrou em casa correndo.
- Papai, papai, embrasou a moradeira do Latildo!
O quê, menino? Não estou entendendo nada!


- A moradeira, papai, embrasou...
- Eu não sei o que é isso, Marcelo. Fala, direito!
- Embrasou tudo, papai, está uma branqueira danada!
Seu João percebia a aflição do filho, mas não entendia nada...
Quando seu João chegou a entender do que Marcelo estava falando, já era tarde.
A casinha estava toda queimada. Era um montão de brasas.
O Godofredo gania baixinho...
E Marcelo, desapontadíssimo, disse para o pai:
- Gente grande não entende nada, mesmo!


Então a mãe do Marcelo olhou pro pai do Marcelo.
E o pai do Marcelo olho pra mãe do Marcelo.
E o pai do Marcelo falou:
- Não fique triste, meu filho. A gente faz uma moradeira nova pro Latildo.
E a mãe do Marcelo disse:
É sim! Toda branquinha, com a entradeira na frente e um cobridor bem vermelhinho...



E agora, naquela família, todo mundo se entende muito bem.
O pai e a mãe do Marcelo não aprenderam a falar como ele, mas fazem força pra entender o que ele fala.
E nem estão se incomodando com o que as visitas pensam...



ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. Rio de Janeiro: Salamandra consultoria Editorial S.A, 1976.
Ilustração de Adalberto Cornavaca.


Pai, mãe, avó, avô, estudantes, educadores,


A história esta ai, leia e se delicie com esse gênero -

 história  infantil,

mas gostaria de lembrar que o melhor

 mesmo é a

 criança ter acesso ao livro. É preciso folhear. Ver as

 páginas... os desenhos... os autores... a editora...

.... as letras,

 .... a pontuação,

... as palavras,

 ...e, acima de tudo,

construir o sentido ...