quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

NÓS por Helena Kolody

"Nós

 

Fomos duas árvores castas.
Não misturamos as raízes.
Apenas enlaçamos
os ramos
e sonhamos juntos.

Helena Kolody
ARQUIVO: SMMS

sábado, 24 de janeiro de 2015

PEQUENA CAIXA DE JOIAS por Sara Menck





alguns anos, por ocasião do meu aniversário, ganhei um presente de duas alunas: uma caixinha média e um pequeno colar dentro. Elas se desculparam pelo tamanho da caixa, mas amei tudo, caixinha e colar. 
Foto: SMMS

E elas esperaram eu usar. Poucos dias depois, cobraram de mim. Na verdade, não me lembro da resposta e nem do porquê não ter exibido o colar no dia seguinte.  Hoje vejo que foi uma indelicadeza distraída, porque amara aquele mimo.

  Eram adolescentes e a jovem professora com vontade de acertar nas ações pedagógicas, mas, por certo, errava bastante. Um dos erros era não perceber que revelava certas preferências a alguns alunos, apesar de que isso era algo que eles próprios provocavam. Alguns demonstravam carinho e eu me sentia amada. Claro, que era bom; mas outros não faziam o mesmo.  E na turma havia certa disputa e geravam, inclusive, ciúmes. E segui preocupada com o conteúdo, lógico que amava aquela turma, mas “segurava” esse sentimento. E seguia o planejamento didático da melhor forma possível. A turma era excelente e se tivesse sabido trabalhar melhor aquela consciência íntima e conteúdos didáticos, teria sido sucesso total.

Mas a vida não é assim. As coisas não acontecem cem por cento. Se assim fosse, já estaríamos no paraíso. Temos verdadeiras caixinhas de joias em nossas mãos e não sabemos perceber  beleza e  brilho que podem nos encher de felicidade. 

Foto: SMMS
Hoje, quase 20 anos depois, ainda guardo os dois presentes. Dentro da caixinha, agora cabe um pequeno espelho, além de muitas lembranças, saudades, angústias, medos, amizades, esperanças...


Interessante é olhar para o espelho e ver e analisar ações, palavras e pensamentos que estão contidos na história de vida. Vejo que durante os anos de magistério, aprendi mais do que ensinei. Ao longo da vida, tantas vezes quis acertar e foram tantos os erros.  Há, na minha caixinha, lembranças boas e queridas e reflexões acerca de tantos sentimentos e de uma história que, se pudesse, usaria – também - uma borracha.

Mas há, acima de tudo, esse aprendizado lento e longo. Na caixinha coube tanta sensibilidade que nem é possível descrever aqui. O espelho faz refletir e leva à reflexão. 



Foto: SMMS
E a caixinha se encheu de segredos e mistérios da vida. Quantas vezes, eu quis melhorar tantas coisas! Dar o 10,0 – tão merecido - para tantos estudantes que pelas minhas mãos passaram. Abraçar tantos que o meu coração se encantou.  Não demonstrar maior afeição por uns e deixar outros com os olhos e o coração pedindo um pouco do carinho. Olhar para todos e ver apenas a imensidão de coisas boas que há em cada coração. Esquecer sempre a ofensa, o mau e o mal-entendido. Deixar o eu exercitar o nós. O outro merece sempre mais que o eu. Amar cada um, respeitando as diferenças. Tolerar as imprudências. Jamais ser hipócrita. Nunca lançar a palavra de forma indireta para constranger o outro.  Ser sincero sempre e tirar do invólucro o silêncio como a melhor forma de diálogo...

Ah,espelho, espelho meu, agora reflete como Kolody: “Quem é essa / que me olha / de tão longe, /com olhos que foram meus?”, ou,  então finaliza o canto de Meireles,  Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil: / Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Ah, caixa, caixinha, quanto cabe dentro de ti e, quantas vezes, fala como Pessoa: “"Temos, todos que vivemos / uma vida que é vivida, / E outra que é pensada / E a única vida que temos / É essa que é dividida/ Entre a verdadeira e a errada" . Já, outras vezes, é bem Rosa: "O correr da vida embrulha tudo./ A vida é assim: esquenta e esfria, / aperta e daí afrouxa, / sossega e depois desinquieta./ O que ela quer da gente é coragem."...
 

Foto: SMMS


Sara Maria