sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

"CREPÚSCULOS" por Sara Menck

Fotografia: Lucas Menck


                 A palavra crepúsculo pode significar tanto "uma claridade frouxa que precede a
 escuridão da noite", quanto "uma claridade frouxa que precede o clarão do dia".  No

 primeiro  significado, esse momento de transição entre a claridade  e a  escuridão  parece,

 muitas   vezes, melancólica, porque não é apenas uma lembrança, mas a certeza de

que  tudo tem  um fim.
             
É o dia que finda...
Fotografia: Lucas Menck
O trabalho que acaba...
A aula que termina...
O amigo que se vai...
O fim do feriado...
O final das férias...
O curso que já aconteceu...
O ano que acaba.
...o fim de alguma coisa,
ou o fim de alguém.
Fim!!! Seria isso mesmo??

Não, não é apenas isso, porque se algo termina é porque outro ja se inicia.
 O anoitecer é  só porque o grande girassol cede aquele espaço, permitindo que as

estrelas  brilhem...

              E o amanhecer pode trazer um sentimento mais vivo. Não é apenas o ocaso. É o
 momento em que o caminho torna-se claro para o caminhante.

Fotografia: Lucas Menck.

Sempre ansiamos por amanhecer e viver mais um dia e estar aqui outra vez no próximo
crepúsculo que vai romper na outra manha; no outro entardecer.

E enquanto pelejamos, o  sol se ergue no horizonte, doura o mundo, ilumina os caminhos.
Depois, esconde, enquanto as estrelas brilham...
 
... E assim, la vamos nós embarcados no ciclo da vida ao encontro das alvoradas e
 dos poentes. 

Dormindo e acordando.
Sonhando e realizando.
Perdendo e encontrando.
Abraçando e afastando.
Aceitando e refutando. 
Nascendo e morrendo...

 Terminando um tempo.
Iniciando outro...

Sara Maria


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

"MATURIDADE?? por Sara Menck






 
Já há algum tempo compreendi que nunca mais estarei só.

Que não devo esperar  tanto do outro;

E que ninguém mais me causa espanto, decepção.

Aprendi, também,  que devo aceitar as várias identificações.

Se condeno, 
                                                                 
                                                                    desaprovo, 
                                                  
                                                                                                                      discordo;

Não posso espalhar o que não aceito como certo;

Não se valoriza o que não é bom.


Agora o melhor é observar os bons exemplos;

A postura de conduta, de caráter;

Examinar mesmo os próprios atos;

Procurar acertar;

Aceitar-me;

Consertar-me sempre.


Vejo que toda a escolha é livre e arbitrária.

Somos o que queremos ser.

Temos o que conseguimos ter.

Construímos o que nos é dado como possível

dentro da própria possibilidade.

Entendo também que o eu torna-se melhor

na doação,

na aceitação,

no perdão.


E que ninguém nos acolherá completamente;

Ninguém terá tudo a nos dar;

Não podemos cobrar demais;

Nunca teremos tudo a ofertar;

No entanto, quantas vezes, o pouco do outro é o tão essencial.

Ah, e as dores?


Essas simplesmente são nossas.

Apenas nossas.

Apesar disso, o outro a completa ou a acalma

no  encontro,ou no desencontro.


Vejo que o fazer de o agora é a soma de tudo

o que escolhemos

e adquirimos ao longo do tempo.


Já sei reparar que o presente será o passado amanha

e o futuro, o resultado desses dois tempos.

São tempos perfeitos e imperfeitos

que se podem tornar mais que perfeitos.


Assim, só dependo do entendimento que

 me é dado como

livre arbítrio

para a busca insaciável de uma Ciência

na construção e constituição


do Eu,
                                  do Tu
                                                                      do  Nós...

 

   








Sara Maria  em 12/10/2010

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"UMA IDEIA TODA AZUL" por Marina Colasanti


Um dia o Rei teve uma ideia. Era a primeira da vida toda, e tão maravilhado ficou com aquela ideia azul, que não quis saber de contar aos ministros. Desceu com ela para o jardim, correu com Ela nos gramados, brincou com ela de esconder entre outros pensamentos, encontrando-a sempre com igual alegria, linda idéia dele toda azul. 
Brincaram até o Rei adormecer encostado numa árvore.
Foi acordar tateando a coroa e procurando a ideia, para perceber o perigo. Sozinha no seu sono, solta e tão bonita, a ideia poderia ter chamado a atenção de alguém.
Bastaria esse alguém pegá-la e levar. É tão fácil roubar uma ideia: Quem jamais saberia que já tinha dono? Com a ideia escondida debaixo do manto, o Rei voltou para o castelo. Esperou a noite. Quando todos os olhos se fecharam, saiu dos seus aposentos, atravessou salões, Desceu escadas, subiu degraus, até Chegar ao Corredor das Salas do Tempo.

Portas fechadas, e o silêncio. Que sala escolher? Diante de cada porta o Rei parava, pensava, e seguia adiante. Até chegar à Sala do Sono.

Abriu. Na sala acolchoada os pés do Rei afundavam até o tornozelo, o olhar se embaraçava em gazes, cortinas e véus pendurados como teias. Sala de quase escuro, sempre igual. O Rei deitou a ideia adormecida na cama de marfim, baixou o cortinado, saiu e trancou a porta. A chave prendeu no pescoço em grossa corrente. E nunca mais mexeu nela. O tempo correu seus anos. Ideias o Rei não teve mais, nem sentiu falta, tão ocupado estava em governar. Envelhecia sem perceber, diante dos educados espelhos reais Que mentiam a verdade. Apenas, sentia-se mais triste e mais só, sem que nunca mais tivesse tido vontade de brincar nos jardins.

Só os ministros viam a velhice do Rei. Quando a cabeça ficou toda branca, disseram-lhe que já podia descansar, e o libertaram do manto. Posta a coroa sobre a almofada, o Rei logo levou a mão à corrente. Ninguém mais se ocupa de mim - dizia atravessando salões e descendo escadas a caminho das Salas do Tempo - ninguém mais me olha. Agora posso buscar minha linda ideia e guardá-la só para mim.
Abriu a porta, levantou o cortinado. Na cama de marfim, a ideia dormia azul como naquele dia.  Como naquele dia, jovem, tão jovem, uma ideia menina. E linda. Mas o Rei não era mais o Rei daquele dia. Entre ele e a ideia estava todo o tempo passado lá fora, o tempo todo parado na Sala do Sono. Seus olhos não viam na ideia a mesma graça. Brincar não queria, nem Rir. Que fazer com ela? Nunca mais saberiam estar juntos como naquele dia.

Sentado na beira da cama o Rei chorou suas duas últimas lágrimas, as que tinha guardado para a maior tristeza.

Depois baixou o cortinado, e deixando a ideia adormecida, fechou para sempre a porta.


domingo, 11 de dezembro de 2011

"GANGORRA" por Gioia Junior


                  Quando eu era bem menina ainda (mais ou menos 10 anos), um dos meus irmãos ganhou um livro de poemas de Gioia Junior. Li muitas vezes esse livro. Nele, encontrei poemas simples, mas que me levavam a refletir acerca da vida. Era uma jovenzinha sonhadora e gostava muito daquelas reflexões.







                 Acredito mesmo que aquele pequeno livro me ensinou muito. Era um um longo e silencioso diálogo com o autor dos textos. Gostava mesmo do  jeito que escrevera os seus poemas!!! Naquela época, eu tinha vontade de também saber escrever coisas, mas que trouxessem significados múltiplos...



Espero que também gostem de um dos  poemas desse autor:

"GANGORRA

Quando eu desço, você sobe,
quando eu subo, você desce...
Lá fora dança a gangorra,
desde que o dia amanhece...


Desce e sobe, sobe e desce
num compasso sempre igual:
No centro, um ponto de apoio
prende a tábua horizontal!


Há borrões de sol vermelho
na loira manhã sem par,
e a gangorra não descansa,
sobe e desce sem parar...

A gangorra é como a vida,
nos movimentos que tece;
quando eu desço, você sobe,
quando eu subo, você desce...



Você, que ficou no alto,
não deve de mim sorrir;
você terá que descer,
quando eu tiver que subir! "





Sugestão de leitura: