sábado, 27 de agosto de 2011

DOCE ESPERANÇA!! por Sara Menck



arquivo smms/2012




Ah, Rio que corre no longínquo horizonte
Além das montanhas, depois das colinas.
Rio de águas mansas, claras, cristalinas
De Ti flui a vida, o amor, a paz, a esperança.


É de Ti que procede a água que
faz saciar a sede de justiça.
Tu és quem tiras do coração a sequidão,
Tornando-o como uma bússola em Tua direção.


Ah, meu doce Rio,
Quando a vereda em Tua direção esta clara,
Repleta de flores e cores e amores;
A peleja é azul e branca! 

Podemos mesmo correr como criança
e brincar e sorrir e cantar.
E o ventinho traz a doce brisa que provém de Tuas águas!
E o amanhecer é calmo com o seu orvalhar.


Mas, ah Rio, Rio!!!
Quando a peleja em Tua direção esta tensa,
A noite é longa e amedrontadora.
As feras atacam, ladram, aterrorizam; as cobras traem.
A mata é densa e os espinhos penetram na carne e
Produzem profundas fendas, e sangram e doem.


Ah Rio, Rio, Rio!!
Nesse instante o ventinho alcança?
Que caminho tomar? Onde se esconder?
Só se encontra o transtorno, a inquietação,
o descontentamento, a desolação.
E a noite traz o pavor, o receio,

 a ansiedade, o horror...


Então, meu doce Rio, o quão suave é esse Teu ventinho
Quando assopra uma pequena certeza:
Ainda haverá outro amanhecer
e abrigará o orvalhar que provém de Tuas águas.
E as ínfimas gotículas poderão suavizar as feridas
E amenizar a dor.


Ah, Rio, Rio!!
Ainda que pareça tênue a esperança
que vem desse Teu orvalhar,
o coração ainda anuncia a Tua direção.


É por essa esperança de aconchegar no Teu curso,
Que o olhar se firma avante,
E renova o desejo de em Ti banhar.


Ah, Rio, doce Rio!!!
Quando, enfim, puder te contemplar.
E em Tuas águas puder me deleitar.
Bem sei como estarei.


Não, não será como o louco sedento do deserto
Que ao mirar um oásis, atira-se nele e irrompe-se na secura da ilusão.


Bem sei, ó meu Rio,
Se as Tuas águas me banharem
a cada serenar,
a cada orvalhar,
a cada ventar:
Limpar-me-ão.

Então estarei mais pura, mais clara, mais certa

De que serenamente caminharei até o cursar do Teu leito,
E mansa e tranquilamente
Encontrarei as Tuas águas,
E Contigo desaguarei na eternidade...

Sara Maria em 25/08/2011



domingo, 21 de agosto de 2011

INQUISITORIAL por José Carlos Capinan


"pergunto: tu, ante o presente,
como te defines ao que será  passado?

Há urgência de resposta, antes que a noite chegue.


Carregarás fardos para evitar
 
(repara que o rio corre e a noite vem como onda)

ou deixarás que apenas sejamos o tempo

e irreparável memória?"

(CAPINAN, José Carlos)

domingo, 7 de agosto de 2011

DIA DOS PAIS: doce lembrança de meu pai Martinho Menck!!! por Sara Menck

                         No Brasil, todo 2º domingo do mês de agosto, comemora-se o dia dos pais. Tinha planejado não escrever a respeito de meu pai; afinal, não está mais em nossa companhia; entretanto, gosto muito do seu exemplo como a pessoa e pai  que foi.  Entendo que ser pai é um papel social  significativo para a construção e constituição do ser humano.

                         Assim, resolvi relatar um exemplo de um homem simples que errou e acertou e errou e acertou muitas vezes em sua vida, mas é um excelente exemplo de pai.
                        Vejam só, até  há um  ano eu podia ligar, nesse dia,  para a casa dos meus pais e eu ja sabia quando era o meu pai  quem atendia. Ele tinha um jeito barulhento e atrapalhado de atender o telefone.


-  Quem será?? ja vai... ja vai.... ja vaí... - Era mais ou menos assim até por o fone no ouvido.
- Oi, pai???

- Ohhh fiá!!!! Tudo bom com a graça de Deus???
- Tudo bem, pai.... Eita, hoje é seu dia, heim??
- Ah, é mesmo!!! Vamos soltar foguete????!! - brincava, acredito, para afirmar que nem era tão importante assim.

                           Mas a verdade é que ele esperava os telefonemas, os presentes, e mais que isso, a presença dos filhos, filhas, genros, noras, netos, netas, bisnetos e bisnetas.


                          O ano passado foi cortado o fio desse telefone... Não houve mais telefonemas... Acabaram os presentes e as presenças nas costumeiras reuniões familiares  dominicais. Uma cadeira ficou vazia. O som de uma voz aguda silenciou. Não tive mais a companhia até o meu carro: "Você não volta mais hoje, não é fia?". Ou aquela frase tão doce de se ouvir: "Vai, que o Deus da glória te acompanhe!"

                          E era assim mesmo!  Deus, a palavra mais proferida por ele em 60% de uma existéncia que durou quase um século.

                          A verdade é que não fora um cidadão comum. Foi mais ou menos assim: era simples e pobre. Teve uma família numerosa. Trabalhador e honesto demais. Bravo, às vezes, áspero. Ao mesmo tempo, humilde e muitíssimo sincero.  E amou a Deus acima de tudo. Gostava de uma boa prosa, sobretudo, se fosse falar a respeito de Deus. Tocava violão e cantava. A voz era aguda e, algumas vezes, gostava de ser  irreverente com as notas musicais.

                          Foi um grande leitor. Um dos livros que ele sempre comentava que lera e sofrera muito nessa leitura foi  "O mártir do Gólgota". (Nesse livro, o narrador faz o leitor vivenciar o sofrimento carnal de Jesus Cristo). Porém, nos últimas anos da vida lia, sobretudo, a Bíblia Sagrada. Apesar disso, dizia que não a conhecia em sua profundidade, mas compreendera e vivenciara alguns mistérios celestiais.


                         As suas doenças eram passageiras. Não reclamava delas e as vencia. Orava muito. Não colocava "um bocado de alimento" em sua boca, sem antes, dobrar o joelho e agradecer a Deus. Tinha uma mente brilhante e esteveve lúcido até os últimos dias da sua existência.

                         Teve verdadeiramente Deus como seu amigo. E por isso, muito mais do que por isso, aquele homem simples, comum, que atravessou a cidade de bicicleta por um longo período de tempo,  foi mesmo bem aventurado.

                        Hoje temos plena certeza disso, porque a sua história e o seu final provou isto: Deus o honrou em toda a sua existência e  a  sua grande família tornou-se muito produtiva sócio, economico, cultural, científica e espiritualmente falando.

                        Enfim, lembrar de meu pai é como falar de riqueza em fidelidade, em perseverança, em honestidade, em simplicidade, em fé e em amor ao seu Deus no sentido literal de cada palavra. Apesar disso, como já disse, ele errava bastante, mas o que tinha de melhor era a sua busca incessante para compreender o acertar e acertar mesmo.

                        E hoje, apesar de ter sido cortado o fio das nossas ligações, não tenho tristezas, antes pelo contrário, sou muito feliz em ter sido filha de Martinho Menck. Claro, há uma saudade doída, mas há, mais do que tudo, uma forte ligação espiritual e  histórica que se pode resgatar sempre que procuro aquele  eterno Amigo do papai.


                      Lembro que em em suas orações - quando as fazia em voz alta - começava assim: "Pai glorioso e santo.. ."   
       
 Por isso, agora meu caro leitor, para comemorar o dia dos pais vou usar um termo que lembra muito o meu velho e querido papai e pedir ao "Pai glorioso e santo" que abençoe os pais e os ajude a serem e a construirem - também - bons exemplos de pais "de geração em geração"...



E, para "variar", um pequeno poema que escrevi alguns dias depois que Deus recolheu papai.



Despedida


Por que vais agora, pai?     
Ainda não tranquei as portas
Não guardei as chaves
Não apaguei as luzes
Não acertei as arestas
Não preparei as refeições
Não fiz os telefonemas
Nem te entreguei todos os meus bilhetes!!

E tão cedo, por quê?
Quisera ainda uma vez
Ouvir teu canto e
Aquela tão santa saudação!!!

E logo agora que compreenderas
Tão bem o mistério da existência
E tão duradoura fora a convivência?

E tão feliz te vais embora???
E ainda nem me preparaste
A última lição:
Não sei lidar com esta saudade, não!!

(MENCK, Sara. Despedida.  25/10/10)